Foto de Ricardo Cámpoli, SDB |
Nascido em Murialdo, aldeia de Castelnuovo de Asti, no
Piemonte, aos dois anos de idade o seu pai faleceu, Francisco Bosco. Mas
felizmente tinha ele como mãe Margarida Occhiena, que lembra a mulher forte do
Antigo Testamento. Com sua piedade profunda, capacidade de trabalho e senso de
organização, conseguiu manter a família, mesmo numa época tão difícil para a
Europa como foi a do início do século XIX, dilacerada pelas cruentas guerras
napoleônicas. João Bosco tinha um irmão, dois anos mais velho que ele, e um
meio-irmão já entrando na adolescência.
A influência da mãe sobre o filho caçula foi altamente
benéfica. “Parece que a paciência e a doce firmeza de Mamãe Margarida
influenciaram São João Bosco, e que toda uma parte de sua amenidade, de seus
métodos afáveis, deve ser atribuída aos modos de sua mãe, à sua maneira de
ordenar e de prescrever, sem gritos nem tumulto. [...] Margarida terá sido uma
dessas grandes educadoras natas, que impõem sua vontade à maneira de doce
implacabilidade” [...].
Pintura de Nino Musio |
“João Bosco é um entusiasta da Virgem. Mamãe Margarida lhe
revelou, pelo seu exemplo, a bondade, a ternura, a solicitude de Mamãe Maria.
As duas mães se confundem em seu coração. Dom Bosco será um dos grandes
campeões de Maria, seu edificador, seu encarregado de negócios”1.
A Providência falava a ele, como a São José, em sonhos. Aos
nove anos teve o primeiro sonho profético, no qual — sob a figura de um grupo de
animais ferozes que, sob sua ação, vão se transformando em cordeiros e pastores
— foi-lhe mostrada sua vocação de trabalhar com a juventude abandonada e fundar
uma sociedade religiosa para dela cuidar.
Extremamente dotado, tanto intelectual quanto fisicamente,
era um líder nato. Por isso, "se bem que pequeno de estatura, tinha força
e coragem para meter medo em companheiros de minha idade; de tal forma que,
quando havia brigas, disputas, discussões de qualquer gênero, era eu o árbitro
dos contendores, e todos aceitavam de bom grado a sentença que eu desse”2,dirá
ele em sua autobiografia. Observador como era, aprendia os truques dos
saltimbancos e prestidigitadores, de maneira a atrair seus companheiros para
seus jogos e pregação, pois desde os sete anos foi um apóstolo entre eles.
Possuía um vivo discernimento dos espíritos, como ele mesmo
afirmou: "Ainda muito pequeno, já estudava o caráter de meus companheiros.
Olhava-os na face e ordinariamente descobria os propósitos que tinham no
coração”3. Essa preciosa qualidade depois o ajudaria muito no apostolado com a
juventude.
Órfão de pai, muito pobre para estudar para o sacerdócio
como pretendia, e tendo sobretudo a incompreensão do meio-irmão, que o queria
no campo, aos 12 anos a mãe lhe pôs sobre os ombros um bornal com alguns
pertences e o enviou a procurar trabalho nas fazendas vizinhas. Assim o
adolescente perambulou pela região, servindo de garçom num café, de aprendiz de
alfaiate, de sapateiro, de marceneiro, de ferreiro, preceptor, tudo com um
empenho exímio, que o levará depois a ensinar esses ofícios a seus
"birichini"4 nas escolas profissionais que fundará.
A vida de São João Bosco é um milagre constante. É humanamente
inexplicável como ele conseguiu, sem dinheiro algum, construir escolas, duas
igrejas — uma sendo a célebre Basílica de Nossa Senhora Auxiliadora — prover de
máquinas específicas suas escolas profissionais, nutrir e vestir mais de 500
rapazes numa época de carestia.
Para Pio XI, "em D. Bosco o sobrenatural havia chegado
a ser natural; o extraordinário, ordinário; e a legenda áurea dos séculos
passados, realidade presente”8.
Quando mais ele precisava e menos possibilidade tinha de
obter dinheiro, aparecia algum doador anônimo para lhe dar a exata quantia
necessitada. Mas ele empenhava-se também em promover rifas, leilões e tudo que
pudesse render algum dinheiro para sua obra.
Educador ímpar, e sobretudo eficaz diretor de consciências,
vários de seus meninos morreram em odor de santidade, sendo o mais conhecido
deles São Domingos Sávio. Dom Bosco escreveu-lhe a biografia e a de vários
outros.
Necessitando Dom Bosco de ajuda para seu apostolado
incipiente, não teve dúvidas em ir pedi-la à sua mãe, já entrada na velhice e
vivendo retirada junto ao outro filho e netos. Essa mulher forte pegou alguma
roupa e objetos de que poderia necessitar, e, sem olhar para trás, seguiu seu
filho a pé, nos 30 quilômetros que separavam sua vila de Turim. Tornou-se ela a
mãe de tantos "birichini", aos quais alimentava, vestia e ainda dava
sábios conselhos. Foi seguindo seu costume que seu filho instituiu as belas Boa
Noite, ou palavras edificantes aos meninos antes de eles irem dormir.
São João Bosco mantinha uma correspondência intensa,
escrevendo para imperadores, reis, nobreza, dirigentes da nação, com uma
liberdade que só os santos podem ter. Assim, transmitiu ao Imperador da Áustria
um recado memorável de Nosso Senhor para que ele se unisse às potências
católicas, a fim de se opor ao poderio crescente da Prússia protestante.
Escreveu também à nossa Princesa Isabel, recomendando-lhe seus salesianos no
Brasil. Ao rei do Piemonte, prestes a tomar medidas contra a Igreja, alertou-o
da morte que reinaria no palácio, caso isso ocorresse. Como o soberano não
voltou atrás, quatro membros da família real se sucederam no túmulo, em breve
espaço de tempo.
São João Bosco morreu em Turim a 31 de janeiro de 1888,
sendo canonizado por Pio XI em 1934.
Notas:
1.La Varende, Don Bosco, Le Livre de Poche Chrétien, Arthème
Fayard, Paris, pp. 15 e 21.
2.San Juan Bosco, Memorias del Oratorio, Primera Fase, 1, p.
7, in "Biografía y Escritos", B.A.C.
3.Id. Ib.
4.Plural de "birichino" — garoto, gaiato
(Dizionario Portoghese-Italiano, Italiano-Portoghese, Carlo Parlagreco e Maria
Cattarini, Antonio Vallardi Editore, Milano, 1960).
5.Pe. Rodolfo Fierro, SDB, Biografía y Escritos...,
Introdução, p. 14.
6.Id. ib., p. 15.
7.Id. ib., p. 51.
8.Discurso de 3 de abril de 1932, apud BAC, op. cit., p. 11.
Nenhum comentário:
Postar um comentário