sexta-feira, 29 de agosto de 2014
segunda-feira, 4 de agosto de 2014
Teste Vocacional - Dom Alberto Taveira
Não é raro que em escolas e outros ambientes se ofereçam os chamados testes vocacionais, com os quais as habilidades são identificadas, contribuindo para as novas gerações encontrarem seu lugar na sociedade. Podem ajudar a descobrir os campos de atividade mais adequados às capacidades de cada um e facilitar o acesso aos cursos adequados e à posterior entrada no mercado de trabalho. Nem sempre as pessoas acertam na escolha do curso a fazer e são muitas aquelas que, em virtude de um concurso feito, dependentes dos salários que recebem, permanecem longos anos em ambientes inadequados aos seus próprios dons. Todos nós almejamos um mundo em que as pessoas se integrem bem e sejam felizes, no lugar certo, com sua dignidade reconhecida e possibilidades de desenvolvimento de todas as suas potencialidades. O sonho pode parecer distante, mas não podemos desejar menos do que uma sociedade livre e igualitária, com oportunidades oferecidas a todos. Daí a importância a ser dada a todos os instrumentos técnicos e pedagógicos que nos aproximem de tal ideal. Acrescente-se a isso o esforço a ser empreendido para multiplicar os postos de trabalho destinados às novas gerações.
No entanto, é outra a compreensão da ideia cristã de
vocação. Os testes vocacionais e outros recursos podem conduzir à profissão e à
realização das capacidades, mas vocação tem a ver com vida cristã e experiência
religiosa, o que pode conduzir à escolha de um estado de vida e disponibilidade
para o serviço do próximo por causa de uma realidade que supera as atividades cotidianas
ou o trabalho a ser realizado. Vocação exige dois polos. De um lado, Deus que
cria, chama e ama. A outra parte é de cada pessoa humana, que precisa aprender
a discernir os sinais da vontade de Deus e responder com coragem.
O ponto de partida está na família, convidada, através do
Sacramento que a constitui, o matrimônio, a criar um ambiente adequado ao trato
pessoal com Deus. Tudo começa no ato gerador do amor conjugal, com o qual uma
vida tem início, com a colaboração dos pais, conscientes de que, ao conceberem
uma criança, Deus cria uma alma chamada a viver por toda a eternidade (Cf.
Encíclica Humani Generis, do papa Pio XII, número 36). Há um relacionamento
pessoal e direto de amor entre Deus e cada pessoa humana, no qual o Senhor mantém
a plena liberdade com a qual fomos criados e ao mesmo tempo provoca
positivamente uma resposta de cada homem e de cada mulher, em vista da
felicidade a que somos destinados. Deus não é fruto de nossa imaginação ou
criatividade, mas nos precede como Senhor e Criador. Ele vem na frente! Nós é
que somos suas criaturas!
A vida de oração na família cria as condições para que as
crianças, tendo recebido de presente a inserção no Corpo de Cristo, na graça do
Batismo, venham a responder a uma pergunta fundamental: "O que Deus quer
de mim?" Não é suficiente ensinar os filhos a desenvolverem suas
capacidades e descobrirem como ser importantes ou ganhar dinheiro na sociedade.
Uma pessoa não chegou à sua plena realização quando faltou a experiência de
Deus e a resposta a este amor pessoal. O nome de Deus e o amor a Ele sejam
sagrados em cada casa. A família evangeliza e lança as sementes das vocações
cristãs autênticas quando dentro dela se respiram os valores evangélicos
verdadeiros, traduzidos em gestos e palavras tão simples, como pedir um favor,
agradecer, dar espaço aos outros, o perdão, a gentileza, a polidez no trato.
Para cultivar este ambiente, a família seja o espaço da iniciação à vida
paroquial. Criança que vai à Missa com os pais tem futuro na vida cristã!
Participação familiar na Santa Missa é Pastoral Vocacional! Depois, a Igreja,
seus Sacramentos, seus Ministros, sua história, tudo venha a ser valorizado e
respeitado na família!
O cultivo do ambiente vocacional continua com a inserção
na catequese e nos grupos paroquiais, segundo as idades das crianças,
adolescentes e jovens. Ali se ampliam os horizontes, outras pessoas são
conhecidas. Nas Paróquias e Comunidades, faça parte do esforço pastoral a
orientação vocacional e o reconhecimento das diversas vocações e estados de
vida, nos quais o amor de Deus é acolhido e respondido com generosidade. Todas
as vocações sejam consideradas importantes e nenhuma preterida nas Paróquias.
Além disso, seja valorizada a figura dos orientadores vocacionais. Leigos e
Leigas, Religiosos e Religiosas, assim como os sacerdotes, estes na magnífica
tarefa do Sacramento da Penitência e da Direção Espiritual, são agentes
imprescindíveis para uma cultura vocacional a ser desenvolvida na Igreja.
As grandes vocações
eclesiais a serem cultivadas são o Matrimônio, o Sacerdócio, a Vida Religiosa e
Missionária, a Dedicação a Deus nas Comunidades Novas, a Virgindade Consagrada
nas Igrejas Particulares e outras formas de compromisso pessoal com o Senhor.
Há lugar e oportunidade para todos e ninguém pense não ter uma vocação. Todos,
sem exceção, têm um olhar pessoal de Deus a ser realizado na Igreja.
E somos ainda convidados a retornar ao argumento inicial,
a profissão e a vocação. Um dia, perguntei a um jardineiro o que estava atrás
da beleza de seu trabalho. Respondeu-me com simplicidade que era apenas o amor
com que suas mãos realizavam as tarefas. Apenas! E encontro homens e mulheres
de tantas outras profissões que as realizam com inigualável unção! Capacidades humanas
foram elevadas a uma sacralidade impressionante. Tive inúmeros contatos com
médicos, para dar um exemplo, que se deixam conduzir pelo Espírito Santo em
suas delicadas tarefas. A diferença está lá dentro da pessoa, que pode ser
apenas um profissional frio ou se deixar conduzir pela graça de Deus. Acontece
então um encontro maravilhoso entre a iniciativa do Senhor, que nos leva em
conta, e as capacidades humanas, cuja fonte se encontra também nele. A Ele a
honra, o louvor e a glória, para sempre.
Dom Alberto Taveira
Arcebispo de Belém do Pará
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